Tainha: Lapidações, Amadurecimento e Futuro. Do Limão à Limonada e os amargores da transição!
- conepe
- há 6 dias
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Atualizado: há 5 dias
Caro leitor,
Passado junho e algumas pescarias já fechadas por atingimento de suas cotas, vimos importante trazer uma reflexão sobre a Tainha, recurso tão importante do Sul do Brasil, cheio ainda de mistérios e esclarecimentos a serem feitos sobre sua biologia, abrangência geográfica, gatilhos migratórios e tantos outros aspectos fundamentais à sua “melhor gestão”.
Já escrevemos muitas vezes sobre este incrível peixe, tão intrinsecamente vinculado à cultura catarinense e gaúcha. Sua tradição, suas histórias e sua força, aliadas a todo valor econômico, elevaram pescarias deste recurso ao reconhecimento muito especial, de Patrimônio Imaterial de Santa Catarina. Em 2018, pela tradição da pesca com botos, em Laguna, no sul do estado e numa interação de pescadores, “tarrafeiros” e estes lindos mamíferos aquáticos, unem capacidades e esforços e se beneficiam mutuamente. Achamos ótimo material neste site, explore.
Depois, em 2019, a pesca de arrasto de praia, em especial na Praia do Campeche, onde olheiros sensíveis e experientes avistam o aproximar de cardumes e, com muita tática e dedicação, indicam aos seus barcos e tripulantes o momento e a direção para o lanço,

o cerco, e o recolhimento de peixes. Operações de enorme plasticidade, um jogo de equipes, de tripulações que se organizam em times, proeiro, remeiros, chumbeiros que passam o tempo contando histórias, jogando dominó, ao mesmo tempo, atentos ao alerta do olheiro, em barracões à beira-mar, com barcos e material preparado! Estes times disputam, veladamente, o maior lance da temporada!
A prática é comum, desde o Sul até o Norte do Estado, onde, em suas baias e costões, os cardumes em migração procuram condições apropriadas para reprodução.

Há ainda outras modalidades que trabalham sobre o mesmo recurso, o emalhe de superfície, o emalhe anilhado, o Cerco Industrial e mais ao sul, nas águas da Lagoa dos Patos, num gigantesco estuário, o “Mar de Dentro”, há também muita tradição e histórico de seu uso, sendo que, normalmente, mais ao sul e em “águas interiores”,

o produto ainda tem suas gônadas, ou ovas em desenvolvimento, menos representativas no peso total e de menor valor, mas igual merecedor de atenção e uso por comunidades tradicionais gaúchas.
O grande desafio é conhecer o estoque, sua capacidade e produtividade sustentável e, depois deste parâmetro estabelecido, determinar um Limite de Captura, considerando suas incertezas e complexidades ambientais interanuais, buscando maiores chances para gerações e produções futuras. Este limite não é fixo, o estoque deve ser monitorado e o limite adaptado a sucessos e fracassos reprodutivos e eventuais outros eventos que lhes afete a abundância, mas sempre deve haver um limite. Aí vem a bronca, dividir este Limite entre os usuários em suas comunidades e entre as diversas modalidades.

Já sabemos, sempre haverá descontentes! Em todos os lugares há!
Num primeiro momento, quando são colocadas as “regras do jogo”, quando é publicada a Portaria de Ordenamento da Safra, determinados grupos se sintam perdedores e outros esfreguem as mãos em contentamento, mas depois, com o desenvolvimento da atividade, por forças de vento, de correntes, de frentes frias, de ondas e por tantos mistérios ainda desconhecidos, os “humores” se invertam ou todos fiquem contentes, outras vezes “P. da vida”. - Não deu peixe!
É pescaria! ! Tá cheio de espirituosidade, folclore, intuição!

Mas não dá para ser livre, anárquico, cada um fazer o que quer, porque leva ao desrespeito aos limites, à falta de governança, em oposição à coletividade, à cidadania e, portanto, ao princípio de sustentabilidade e máxima produtividade que se deve buscar dos recursos pesqueiros.
Até 2024, basicamente se tinha o Limite de Captura, mas apenas duas modalidades, ou pescarias, sujeitas às cotas, o Emalhe Anilhado e o Cerco Industrial, estes ficavam com o que sobrava das outras modalidades. Havia o Limite de Captura (aprox. 6700 ton.), havia uma estimativa das capturas no estuário e das modalidades costeiras, emalhe de superfície e arrasto de praia, havia margens de segurança e, deduzidas estas estimativas do total fixado no limite, estabeleciam-se as cotas para os Anilhados e para as Traineiras, o cerco industrial. Neste 2025, a nosso ver correta e evolutivamente, os gestores inovaram ao propor cotas para todas as modalidades descritas, excluindo as tarrafas, o recreativo e as regiões fora da principal e importante área de produção como os litorais Paranaense, Paulista e Carioca, como determinou a Portaria Interministerial MPA/MMA 26/2025:

Esta é a primeira pescaria brasileira experimentando a gestão por limites e cotas, já dissemos, é um processo complexo, que demanda muita ciência e conhecimento, demanda em respeito à cidadania, ao entender sobre a repartição de oportunidades e sim, é algo que deve evoluir, equilibradamente e com consenso.
Temos visto movimentações institucionais, associações, até universidades, governos e parlamentares com discurso redutor e projetos de oportunidade, além de judicializações questionando os sendo que precisamos pensar em uma escala de tempo maior, não mandatária e não bairrista, o recurso não entende e não obedece a estes períodos e a estas fronteiras. Provavelmente, grande parte vem de outras jurisprudências, do Uruguai e da Argentina e é no recurso biológico que deve estar a priorização.
Pelo futuro de cada modalidade ou região, precisamos pensar no todo. De novo, entendemos com humildade as limitações persistentes no conhecimento, devemos investir na ciência, na capacitação, na absorção e respeito às regras e sempre incentivaremos o equilíbrio, não à polarização.
Deve prevalecer o enfoque ecossistêmico, nesta e em tantas outras pescarias nacionais e internacionais.
A Pesca da Tainha assumiu também este papel, de desbravar o terreno áspero e individualista que existe, trazendo os interesses coletivos para a proa, estes devem ser a bússola de políticas públicas e de nossos esforços coletivos.
Muito bom, parabéns.